Na última semana, recebi o time de design da Avenue em São Paulo e tivemos três dias de intensa discussão sobre como podemos evoluir e gerar ainda mais valor dentro da estrutura da empresa.
Conversamos sobre pesquisa, conteúdo, design system e operação de design. Houve também a presença especial do Jaakko. Ele falou sobre as Empresas Centradas em Experiência e o que elas precisam fazer para isso acontecer.
Fiz a abertura da Semana do Design na Avenue falando sobre cultura de colaboração e criatividade. Para abordar o tema, retomei parte da minha trajetória profissional, relembrando alguns aprendizados que adquiri ao trabalhar na Huge Brasil. Trouxe alguns conceitos e atitudes que acredito serem relevantes para a criação de um ambiente criativo e colaborativo.
Comecei a minha apresentação pensando porque Apple e Airbnb fazem um trabalho muito foda. Quais são os comportamentos? Qual é a cultura? Como a visão das empresas ajuda a alcançar a qualidade? O que Steve Jobs e Brian Chesky têm em comum?
O que aprendi sobre colaboração e criatividade
Quando cheguei à Huge, 2014, era o local onde sonhei trabalhar. Talvez fosse uma das empresas mais modernas e com cultura de produto digital da época. A empresa havia chegado ao Brasil recentemente e auxiliou o Itaú nos primeiros passos na transformação digital.
Tinha atingido o objetivo de sair de Brasília e trabalhar com pessoas que eu admirava. Quando cheguei à empresa, a minha pergunta era: por que a Huge realizava trabalhos tão superiores à média do mercado?
Ao longo do tempo, a equipe da Huge desenvolveu uma apresentação para abordar o significado de realizar um trabalho de qualidade e criaram um framework que, até hoje, continua sendo relevante.
Segundo o material produzido pela Huge, um trabalho de qualidade deve conter três atributos fundamentais: técnica, conceito e originalidade.
Técnica - é atenção ao detalhe. A impressão inicial é a mais importante. Quando estabelecemos uma relação de cuidado com cada detalhe. Não é por acaso que Steve Jobs desejava que a parte interna do computador fosse bonita, mesmo sabendo que a grande maioria das pessoas nunca a veria.
Conceito - é ter ousadia. Todo conceito é composto por uma ideia muito bem trabalhada. Um bom conceito deve ser diferente e inovador. É fazer com que o óbvio cause uma impressão diferente nas pessoas. Existe uma nova forma de desenvolver um aplicativo de banco?
Originalidade - é observar algo que já está lá. É não se limitar à maneira como as coisas "deveriam ser". É tangibilizar algo de uma maneira única e que deixe uma sensação de que eu queria ter feito isso.
Esses três atributos ajudam a compreender o que seria um trabalho foda sob a perspectiva do time da época. Embora haja uma grande mudança nos últimos dez anos, ainda é possível perceber com clareza o que significa um trabalho de qualidade.
No começo da empresa, ninguém conseguia responder essa pergunta. Mas, quando olho para trás, consigo perceber alguns comportamentos que ajudaram a criar uma cultura de que ainda sinto saudades. Nesse período, aprimorei os meus princípios como designer e tive a oportunidade de conhecer pessoas que levarei para a vida toda.
Ponto de vista
Falo bastante sobre a relevância de toda pessoa designer ter um ponto de vista. Na Huge, as pessoas eram incentivadas a apresentar uma perspectiva para um ou vários problemas. A hierarquia não era relevante. Todos eram designers e podiam dar suas ideias.
Muitas vezes levávamos visões diferentes para o cliente ver oportunidades com diferentes abordagens. Era o momento mais feliz da semana para os nossos clientes. Isso nos fazia acreditar que estávamos no caminho certo.
Colaboração e feedback
Antes de chegar à Huge, estava acostumado a ouvir elogios em praticamente tudo o que fazia. Muitas pessoas querem isso, mas acho perigoso trabalhar em lugares que só te dão elogios. Você para de aprender. Receber somente elogios pode ser sinal de falta de conhecimento, zona de conforto ou medo de conflitos das pessoas que estão ao seu redor.
Na Huge, as pessoas eram verdadeiras sobre a qualidade do trabalho. Esse estímulo era avaliado até mesmo durante a realização de entrevistas com futuros membros da equipe. A ideia era descobrir como as pessoas se sentiam quando falávamos da qualidade do trabalho. O objetivo era ter pessoas que não tinham medo de feedback e lidavam bem com a entrega. Poderia até parecer algo opressor, mas era um lugar que proporcionava o crescimento profissional das pessoas.
Don't crack under pressure
Eu aprendi na Huge que um bom trabalho é feito por várias pessoas pensando no mesmo problema. As pessoas trabalhavam de forma intensa e ninguém se conformava com a primeira ideia. Eu me recordo muito de ouvir a frase: não paga para criar um novo artboard. Lá, um designer descobriu o limite de artboards do Illustrator.
Execução
Todos os detalhes importam. Não deixe as pessoas te convencerem do contrário. Ninguém poupava esforços para tangibilizar uma ideia. Se as pessoas não tivessem a habilidade de produzir um vídeo para transmitir um conceito, elas aprenderiam ou solicitariam ajuda.
Cansei de ver a cara de satisfação de clientes ou futuros clientes ao ver algo mais do que um PPT cheio de promessas. As pessoas dedicavam tempo de verdade para deixar o concorrente sem condições de competir pelo projeto.
Durante a fase de produção, ninguém perdia o interesse. A documentação era considerada a parte central das entregas. A entrega era feita com muito cuidado e todos estavam tão animados quanto quando estavam na concepção.
Conclusão
Steve Jobs disse que é mais fácil ver o sentido das coisas no futuro do que agora. Hoje, muita coisa do que aprendi tento empregar na Avenue e sinto que o resultado aparece mesmo entendendo os diferentes momentos da empresa. Sei que princípios geram comportamentos que geram orgulho lá na frente.
No final, ninguém se lembrará do prazo, do orçamento e nem das restrições que você tem ao desenvolver um projeto. As pessoas vão se recordar apenas do resultado alcançado com uma entrega. Dessa forma, penso que não devemos medir esforços e dar o melhor de nós em cada tarefa que fazemos.
Não se convença de que dá para ficar melhor depois. Muitas vezes, a pressa acaba e o trabalho de má qualidade permanece. É angustiante constatar que poderíamos ter investido mais horas na qualidade da entrega, ou mesmo gastando energia discutindo com colegas e stakeholders sobre uma entrega que não trará benefícios.
Vou tirar férias por duas semanas. Volto a postar aqui somente a partir do dia 22 de julho. Até la!