#005 - Como recuperamos a alegria de trabalhar com design?
Reflexão sobre o momento em que estamos vivendo em design
Sempre que converso com amigos e amigas de design, especialmente as que já trabalham na área desde o início, sinto que elas estão tristes com o que estão fazendo ou com o local onde estão trabalhando.
Talvez seja uma percepção da minha bolha, ou estou sendo romântico em relação à empolgação e motivação que as pessoas deveriam ter ao exercer suas atividades em design.
Sei que poucos profissionais se sentem satisfeitos com o que fazem. Tenho facilidade de me automotivar e estou feliz com a carreira que escolhi, apesar das dificuldades. No entanto, sempre procuro fazer o melhor possível com os recursos e tempo disponíveis.
Voltando à questão da insatisfação das pessoas em relação à área de design, gostaria de fazer uma reflexão para tentar compreender possíveis razões que possam contribuir para minha opinião.
Eu acho que o mercado de design está entrando na quarta fase e vou falar sobre cada uma para entender o que está acontecendo agora.
Fase 1 - Nascimento dos portais e poucas opções
A primeira fase surgiu nos anos 2000 com os principais portais de conteúdo, onde houve a necessidade de pessoas que ajudassem a organizar a informação da maneira mais clara possível.
Nessa fase surgiram oportunidades em arquitetura de informação e usabilidade. Havia pouca informação em português. Havia poucas opções de trabalho.
Fase 2 - UX e a sopa de letrinhas de cargos
A segunda fase nasce com o termo "UX" para todo o lado. Nessa fase, o mercado no Brasil cresceu e existiu a possibilidade de trabalhar em empresas mais maduras de design de produtos.
Nessa época, tivemos mais acesso a conteúdo de qualidade, principalmente em português. Surge o Blog de Arquitetura de Informação, hoje o UX Collective.
Fase 3 - Transformação digital e abundância de possibilidades
A terceira etapa procura acelerar a transformação digital nas empresas. Esse movimento foi causado pela pandemia que forçou milhões de pessoas a ficarem em casa.
As empresas contrataram como nunca, o que gerou algumas dores que pagamos até hoje.
A demanda fez com que algumas pessoas ainda não capacitadas assumissem posições de liderança, o que acabou queimando etapas importantes da formação de um líder. E esse movimento gerou uma dor muito grande que nos leva a fase 4.
Fase 4 - Demissão em massa e estamos pagando para ver a próxima fase
A quarta fase é marcada por muitas demissões no Brasil e nos Estados Unidos. Somente nos Estados Unidos, foram demitidas mais de 200 mil pessoas em empresas de tecnologia e startups de grande porte.
Essa fase pode ser um bom motivo para a infelicidade das pessoas que trabalham com design atualmente.
O medo de perder o emprego paralisa as pessoas e faz elas aguentarem o trabalho. Afinal, todos nós temos que trabalhar para pagar as contas.
Conclusão
Posso estar com uma percepção incorreta do cenário atual, e estou disposto a conversar mais sobre isso, mas é perceptível que não sinto mais tanto entusiasmo em relação ao design ou ao que as pessoas estão fazendo em design.
Nesses momentos difíceis, surgem grandes oportunidades. São nesses momentos que podemos investir e aperfeiçoar ainda mais a carreira à qual escolhemos dedicar grande parte da nossa vida.
Em um momento difícil como esse, é preciso mais garra e paixão para continuar acreditando na profissão que escolhemos. No final das contas, o que fazemos é de grande importância para o mundo.
Links da semana
Jason Fried challenges your thinking on fundraising, goals, growth, and more
Eu gosto de tudo que Jason Fried fala ou escreve. Jason é o fundador da 37Signals, uma empresa criada há 25.
No podcast, Fried fala sobre a empresa, que é independente e tem menos de 70 funcionários.
Ele acredita que manter uma empresa pequena é benéfico para a receita e qualidade que ela pode gerar para o mercado. Também conta porque nunca quis crescer como alguns concorrentes, como Slack e Asana.
Fried fala sobre como a empresa constrói seus produtos. Eles trabalham com um modelo bastante simplificado de entrega de valor em 6 semanas, tendo sempre um designer e um desenvolvedor. Acreditam em ciclos, não sprints, com início, meio e fim.
Fried finaliza o podcast dando dois conselhos para qualquer pessoa que deseja iniciar um negócio. A primeira é que gastamos energia e atenção em coisas que nem sempre acontecem. O segundo é que temos a tendência de complicar tudo. Precisamos pensar e fazer as coisas de forma mais simples.
Barry Katz: The history and philosophy of design in Silicon Valley and beyond
Barry Katz tem um papel crucial para explicar o surgimento e a relevância do design na história do Vale do Silício. Ele é o autor do livro Make It New: The History of Silicon Valley Design, que apresenta a evolução da disciplina de design no Vale do Silicon Valley.
No podcast, Katz afirma que o design tornou-se crucial e imprescindível a partir do momento em que os computadores foram introduzidos nas casas das pessoas. Dessa forma, houve uma preocupação em tornar essas ferramentas mais acessíveis e humanas.
É interessante notar que o design surgiu da necessidade de tornar a tecnologia mais humana. Dessa forma, a pesquisa antropológica surge como uma grande ferramenta para compreender melhor os seres humanos.
Obrigado por falar sobre isso! Sinto o mesmo:
- quem tá querendo entrar tá sofrendo e sentindo muita dificuldade
- quem entrou agora tá se sobrecarregando — muitas vezes a única pessoa atuando em design
- quem entrou faz tempo tá sem visão de futuro
Eu não tô feliz, mas também não tô triste (vibe meio millennial?). Mas também quero apoiar e ajudar a gente a criar esse futuro — ter esperança de pagar pra ver a próxima fase e ser (e quem sabe fazer?) um bom show :)