#035 - O jeito Pentagram
O que podemos aprender com o estúdio de design mais consistente do mundo?
Pentagram é um dos maiores e mais relevantes estúdios independentes de design do mundo. A empresa foi criada em Londres, em 1972, por artistas e designers que queriam se unir para criar projetos de qualidade, onde os sócios tivessem a mesma opinião e colaboração.
A empresa é reconhecida pelo modelo de sociedade único e já fez projetos relevantes para várias marcas. Paula Scher, Designer Gráfica e especialista em tipografia, que também tem um documentário a Netflix, foi a primeira mulher a se juntar ao estúdio em 1991. Paula é reconhecida por trabalhos super relevantes para o teatro de Nova York, Citibank, Tiffany & Co e Shake Shack.
Marina Willer é a primeira mulher brasileira a fazer parte da sociedade da empresa. Atualmente, o estúdio conta com 21 sócios espalhados por diferentes cidades, como Nova York, Londres, Austin e Berlim.
O modelo de sociedade é bem focado em criar um trabalho artesanal, colaborativo e multidisciplinar, onde diferentes áreas do design trabalham juntas sem hierarquias, o que poderia prejudicar a relação entre quem dirige e quem executa.
Depois de 5 décadas, é interessante tentar entender por que o modelo deu certo e ainda é relevante para o mercado. Com base nisso, procurei listar 5 princípios que, para mim, mantêm a empresa tão singular mesmo após tanto tempo de existência.
Sociedade coletiva
Empresas têm muitas divisões e às vezes há uma distância entre quem dirige e quem executa. O que cria um grande vão entre a expectativa e a realidade.
Na Pentagram, os projetos sempre ocorrem de forma colaborativa e coletiva. Não há hierarquia. Todos pensam e fazem design sem se preocupar com título ou política. O intuito é resolver o problema de uma maneira única e adaptada a cada história. A relação com o cliente é muito próxima e há muita confiança no processo.
Os sócios são responsáveis pelos clientes e conduzem projetos em conjunto com os times e outros sócios, quando necessário. A empresa acredita que grandes projetos são feitos quando todos são ouvidos e respeitados. Cada escritório é pensado para as pessoas conversarem em diversos momentos de interação.
Curiosidade
É preciso ter muito repertório para construir marcas relevantes e de impacto. O repertório é criado quando há muita curiosidade. Além de terem uma perspectiva multidisciplinar, as pessoas gostam do que fazem e são curiosas natas.
Para ser um bom designer, você precisa estar sedento por informação, de vida, diz Marina Willer. Para ela, é quase impossível se desconectar. É importante ter contato com o cinema, a leitura, a pintura e a arte. Ela recomenda que sejamos criativos com o tempo disponível além do trabalho. O trabalho não acaba quando você sai do escritório.
No episódio da Netflix, Paula Scher mostra um projeto que está desenvolvendo em casa. O trabalho demonstra sua paixão pela tipografia.
Design e estratégia entrelaçados
Cada símbolo tem um significado forte que diz o que a marca quer transmitir. Na Pentagram, tudo está acontecendo ao mesmo tempo. Não é aquela história de pensar em uma estratégia e depois colocar em prática. A paixão pelo design é natural e as soluções surgem quando a informação entra na cabeça das pessoas. A criatividade e a informação contribuem para o ponto de vista.
A personalidade de uma marca não é criada de forma isolada. Tudo importa para dar significado. Todos os elementos gráficos e verbais existem para criar a personalidade de uma marca.
Design único e memorável
É difícil listar a quantidade de marcas e projetos de identidade que a Pentagram fez ao longo de 5 décadas. Só no Brasil, a empresa foi responsável pelo redesign de logos do Nubank e Itaú, mais recentemente.
A empresa também é responsável pela identidade visual do Slack, ferramenta de comunicação que usamos nas empresas. Sem falar na identidade do Waze, a plataforma de transporte que usamos para nos locomover.
Poderia aqui citar diversas marcas e projetos únicos e memoráveis feitos pela empresa. Mas é a colaboração e o conhecimento individual que tornam os trabalhos mais fortes.
O que estou lendo, vendo, ouvindo e observando
The Last Lecture
Saber que a vida é curta e finita é importante para entender que não devemos perder tempo com coisas desnecessárias. Este livro apresenta a perspectiva de Randy Pausch, um professor e especialista em computação que descobriu ter um câncer terminal e decidiu dar uma palestra sobre a importância de superar obstáculos, alcançar objetivos e aproveitar cada momento.
Um café com Sêneca
Leitura fácil e interessante para quem quer aprender mais sobre filosofia estoica e sobre a personalidade de uma pessoa importante da época.
At Your Best
A melhor forma de ser eficiente é entender como gerenciamos nossa energia e paixões. Este livro aborda a gestão da energia além do tempo e conecta o que é bom com os momentos que mais fazem sentido.
Bom artigo Rogerio. BTW, sou fã da Pentagram desde que comecei minha jornada no Design. Tem um cara lá que admiro muito, Eddie Opara.
Não sei se você já assistiu à palestra do Randy que deu origem ao livro The Last Lecture que você mencionou no artigo. Se ainda não assistiu, recomendo que o faça; tornou-se praticamente um ritual para mim. Todo começo de ano, assisto a esse vídeo. Ele me inspira muito.