Todos os dias, quase sem perceber, somos colocados diante de pequenos e grandes desafios. Qual podcast ouvir no caminho para o trabalho? Que tarefa priorizar na segunda-feira? A escolha parece simples — e muitas vezes é. Mas, se olharmos mais de perto, percebemos que cada decisão, por menor que seja, vai formando aos poucos a pessoa que estamos nos tornando. Escolher é construir o próprio caminho, mas também é deixar de trilhar muitos outros. E talvez seja justamente essa renúncia silenciosa que torna cada escolha tão pesada e bonita ao mesmo tempo.
Será que escolher menos nos ajuda a viver melhor? Os amigos Joshua Fields Millburn e Ryan Nicodemus mostram como nossas vidas podem ser melhores com menos neste documentário na Netflix. Vale a pena assistir.
As pequenas escolhas que moldam a nossa rotina
Escolher o livro ou podcast que vou ouvir no caminho para o trabalho é sempre um desafio. Talvez seja pela quantidade de conteúdo disponível. De acordo com este estudo, em 2024, havia mais de 5 milhões de podcasts disponíveis no mundo, abrangendo mais de 71 milhões de episódios.
Minha lista de livros salvos para ler no Goodreads passa de mil. Não é uma tarefa simples escolher o próximo livro. Tento escolher pelo assunto que estou interessado no momento ou curioso. Muita coisa de AI na lista nos últimos meses. Sempre que conheço uma pessoa nova, peço uma recomendação de livro.
Tento variar minhas leituras entre biografias, comportamento, design, IA, empreendedorismo e tecnologia no geral. Às vezes, escolho algo relacionado aos momentos que estou vivendo no trabalho ou na vida pessoal. Ou aquilo que quero aprender e entender mais. Por exemplo, quando pensei em correr minha primeira meia maratona, li vários livros relacionados como forma de inspiração. No final do ano passado, quando assumi também a área de produto na Avenue, passei a ler muita coisa sobre estratégia de negócio e produto digital.
Outra coisa que influencia bastante a nossa rotina e a sensação de produtividade é o que escolhemos fazer na próxima hora, dia e semana. Gosto de ter certeza de que estou usando o meu tempo de forma valiosa. Para tentar garantir essa percepção, tenho o hábito de investir 30 minutos no domingo à noite para revisar minha agenda e tarefas importantes. É uma forma de garantir que vou ter tempo para aquilo que realmente importa.
As escolhas grandes que moldam quem somos
O lugar que vamos morar, a pessoa que escolhemos para casar e o trabalho no qual passamos grande parte da nossa vida são decisões ainda mais difíceis, porque são duradouras e menos reversíveis. Por isso, exige mais responsabilidade e consciência.
Como Oliver Burkeman menciona em seu livro: Four Thousand Weeks - toda escolha é uma renúncia. Quando estamos dizendo sim para uma coisa, estamos dizendo não para milhares de outras possibilidades. E se não estivermos confortáveis com as nossas decisões, arriscamos ficar ansiosos e frustrados.
Limitar as escolhas pode ser libertador
Será que ter menos opções é igual à satisfação na escolha menor ansiedade? Para ser sincero, gosto muito quando vou a um restaurante e tem um cardápio com menos opções. O que facilita a minha escolha e diminui minha ansiedade de ter que escolher algo para comer. Quando estou com alguém, tento economizar energia pegando o prato preferido da pessoa que já gastou energia escolhendo.
Estudos indicam que menus com muitas opções podem causar o "paradoxo da escolha", onde o excesso de alternativas gera ansiedade e indecisão. Especialistas sugerem que limitar as opções por categoria pode melhorar a experiência do cliente e aumentar a satisfação com a escolha feita. Então, pense nisso quando estiver desenhando a interface do seu aplicativo. Colocar muitas funcionalidades não é sinônimo de sucesso e engajamento das pessoas. Não conheço ninguém que valoriza um produto apenas pela quantidade de funcionalidades.
Foco e simplificado nos negócios
Com o retorno do Steve Jobs à Apple em 1997, ele implementou uma estratégia de simplificação radical no portfólio da empresa. Jobs sugeriu eliminar cerca de 70% dos produtos existentes, focando em apenas algumas categorias. A mudança permitiu que a empresa se concentrasse em produtos inovadores e de alta qualidade, como o iMac, iPod e, posteriormente, o iPhone, estabelecendo-se como líder em design e experiência do usuário.
Antes da pandemia, o Airbnb operava com múltiplos roadmaps descentralizados, cada equipe seguindo sua própria direção. Chesky, CEO da empresa, percebeu que essa abordagem fragmentada dificultava a tomada de decisões eficazes. Ele pediu que todos os líderes apresentassem seus roadmaps e descobriu que muita coisa nem fazia sentido. Como resultado, Chesky consolidou todos os roadmaps em um único plano central e reduziu 90% dos projetos em andamento, concentrando-se apenas nos mais impactantes. Ele afirmou: "Se não está no roadmap, não pode ser lançado".
Além da consolidação do roadmap, Chesky assumiu pessoalmente a liderança do produto, revisando todos os projetos semanalmente. Ele também combinou as funções de gerenciamento de produto e marketing de produto, criando equipes mais enxutas e integradas. Essa reestruturação visava eliminar silos e promover uma colaboração mais eficaz entre os times.
Essa abordagem de foco e simplificação permitiu ao Airbnb não apenas sobreviver à crise, mas também prosperar. A empresa implementou mais de 150 melhorias no produto e retornou ao crescimento, com Chesky destacando que a pandemia, embora desafiadora, tornou o Airbnb uma empresa mais forte e focada.
Em resumo, a decisão de Chesky de reduzir e centralizar o roadmap do Airbnb foi crucial para a recuperação e sucesso contínuo da empresa, destacando a importância de foco, liderança direta e colaboração em tempos de crise.
Conclusão
Escolher bem é aceitar as perdas que vêm com a escolha. As escolhas pequenas moldam quem somos e as grandes são mais difíceis porque são menos reversíveis. É melhor se apegar às escolhas que foram feitas de forma consciente do que ficar sofrendo com aquilo de que abrimos mão.
Que escolhas, sejam elas pequenas ou grandes, eu quero fazer com mais intenção nesta semana?
Referências + notas
O que estou lendo, ouvindo, assistindo e observando por aí.
Decision Fatigue
Texto que detalha melhor as consequências causadas pelas decisões que precisamos tomar todos os dias.
Airbnb e o “fim” dos product managers
Artigo escrito pelo Joca Torres, onde tem mais detalhes das mudanças que o Brian Chesky fez na estrutura do Airbnb.
Quatro mil semanas: Gestão de tempo para mortais
Neste livro, Oliver Burkeman, aborda uma visão muito interessante sobre a responsabilidade que temos ao escolher o que fazemos. Gosto do capítulo quando ele fala que devemos olhar a nossa lista de coisas para fazer como um cardápio de opções que temos, e precisamos escolher aquilo que nos alimenta e é mais nutritivo.
O Papo Reto do CEO do Duolingo
O Duolingo está fazendo um movimento “forçado” para que a IA seja colocada em prática na empresa. Para isso, o CEO da empresa escreveu um memorando estabelecendo algumas práticas importantes para que o tema seja de fato colocado no dia a dia da empresa.
Eu curto a parte da entrevista do Chesky que ele fala que pra liderar uma empresa tem que ter "nerve" pra ser criativo. Tipo uma certa bravura + controle emocional. E aí ele conecta isso com terem mais designers CEOs de empresas. Acho isso foda.